A campanha de financiamento coletivo do Avistando 2025 foi um marco importante para o Instituto Suinã. Durante 51 dias, mobilizamos nossa rede, parceiros, amigos e apoiadores em torno da causa da observação de aves como ferramenta de educação ambiental, turismo sustentável e ciência cidadã. Ao final da campanha, alcançamos R$ 9.476,85 arrecadados pela plataforma Benfeitoria (já descontadas as taxas), além de outros apoios realizados fora da plataforma, e 91 doadores individuais se engajaram para viabilizar a próxima edição do evento.

Fonte: Márcio Gomes
Avistando 2024 - Santa Branca/SP
Esse resultado, embora muito significativo, nos colocou diante de uma realidade que atravessa a maioria das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) no Brasil: a dificuldade de captação de recursos e a fragilidade de sua sustentabilidade financeira. Nossa meta inicial era de R$ 25.000,00 e, embora tenhamos alcançado quase dez mil reais, não chegamos sequer à metade do valor esperado. Essa disparidade revela não um fracasso, mas sim a necessidade de refletirmos criticamente sobre os desafios estruturais do terceiro setor e sobre como podemos criar novas estratégias de mobilização de recursos.
O retrato de um cenário nacional
Diversos estudos têm apontado que as OSCs no Brasil enfrentam uma dependência histórica de recursos internacionais, que, a partir dos anos 2000, começaram a diminuir de forma significativa (Da Silva et al. 2012). O motivo central foi a percepção de que o Brasil já possuía maior capacidade de autofinanciamento. Esse movimento gerou uma lacuna, pois os recursos nacionais não cresceram na mesma medida. Ao contrário, as doações internas ainda são restritas e fortemente concentradas em editais ou parcerias pontuais, o que deixa organizações como o Instituto Suinã constantemente vulneráveis.
O artigo O Terceiro Setor no Brasil: Avanços, Retrocessos e Desafios reforça que essa dependência de fontes instáveis gera descontinuidade de projetos e dificuldades para manter equipes, metodologias e impactos de longo prazo (Oliveira & Godói-de-Sousa. 2015). A ausência de uma política pública estruturada para o financiamento das OSCs coloca as organizações em um lugar frágil: sempre correndo atrás de recursos, sem conseguir investir de maneira consistente em planejamento estratégico.

Fonte: João Ferreira
Avistando 2024 - Igaratá/SP
Lições da nossa campanha
No caso da campanha do Avistando, essa realidade se fez sentir. Tivemos engajamento, tivemos alcance, tivemos apoio, mas ainda assim não conseguimos mobilizar recursos na proporção da necessidade do evento. Isso mostra que a solidariedade comunitária é potente, mas precisa estar conectada a parcerias institucionais mais robustas.
Apesar do desafio, o que conquistamos foi grandioso. Cada um dos 91 apoiadores não apenas doou, mas também validou a importância do Avistando. Isso nos mostra que há uma base social comprometida com a causa e que reconhece o valor de iniciativas de educação ambiental e ciência cidadã. Esse capital simbólico é tão importante quanto o recurso financeiro, pois fortalece a legitimidade da organização e nos dá argumentos sólidos na busca por novos parceiros.

Fonte: Jhennifer Pires - Instituto Suinã
Jovens Observadores - Guararema/SP
O que o terceiro setor precisa discutir
A experiência nos leva a algumas reflexões que extrapolam o Avistando:
A necessidade de profissionalização da captação de recursos: Não podemos depender apenas de campanhas pontuais. É preciso estruturar processos contínuos, investir em marketing social e transparência, e diversificar as fontes de arrecadação.
A importância de parcerias locais: Empresas do território, que também se beneficiam da conservação ambiental e da boa imagem institucional, precisam reconhecer que apoiar projetos socioambientais é investir em um futuro comum.
O fortalecimento da cultura de doação no Brasil: Ainda há um longo caminho para construir uma sociedade que compreenda o ato de doar não como caridade, mas como corresponsabilidade socioambiental.
A articulação política e institucional: Para além das doações privadas, precisamos defender políticas públicas que assegurem linhas de financiamento permanentes para iniciativas da sociedade civil.
Gratidão e convite à continuidade
Queremos aproveitar este espaço para agradecer, de forma profunda, a cada pessoa que acreditou na campanha e fez sua contribuição. Sem vocês, não teríamos conseguido chegar até aqui. Mas queremos também fazer um convite: que essa colaboração não seja pontual, mas parte de um processo contínuo de fortalecimento do terceiro setor.
Afinal, como mostram os artigos que estudamos, o maior desafio não é realizar bons projetos, mas sustentá-los no tempo. O Instituto Suinã tem trabalhado com seriedade, transparência e compromisso com o território, mas precisa, como qualquer outra organização social, de uma rede de apoiadores forte e diversificada.
O Avistando é mais do que um evento de observação de aves. Ele é um movimento de valorização do território, de fortalecimento de comunidades e de conexão entre pessoas e natureza. Apoiar essa iniciativa é apoiar uma visão de futuro em que a conservação da biodiversidade, a geração de renda e a justiça climática caminham juntas.

Fonte: Jhennifer Pires - Instituto Suinã
Avistando 2024 - São Francisco Xavier/SP
Encerramos a campanha com menos da metade da meta, mas com a certeza de que demos um passo importante para transformar não só o Avistando, mas também a forma como pensamos e praticamos a captação de recursos no terceiro setor. Que esse aprendizado nos guie para parcerias mais sólidas, ações mais estratégicas e uma cultura de colaboração mais enraizada em nossa sociedade.
Um agradecimento especial à SAVE Brasil, nossa parceira na realização da campanha de financiamento coletivo. O apoio e articulação foram fundamentais para mobilizar pessoas e ampliar o alcance da causa. Essa parceria reafirma a importância de trabalharmos em rede: quando instituições unem forças em torno de um propósito comum, como a conservação da biodiversidade e o fortalecimento comunitário, o impacto é maior e mais transformador.
Referências:
OLIVEIRA, Eider Arantes; GODÓI-DE-SOUSA, Edileusa. O Terceiro Setor no Brasil: avanços, retrocessos e desafios para as Organizações Sociais. RIS–Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 4, n. 3, p. 181-199, 2015.
DA SILVA, Elton Praxedes Carvalho et al. Captação de recursos para a gestão do terceiro setor, um grande desafio. Editora, local, 2012.