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Atualmente, as mudanças climáticas configuram o maior desafio em escala global. As flutuações nas condições atmosféricas são naturais, contudo, as temperaturas têm aumentado drasticamente nos últimos 150 anos, o que representa uma “anomalia climática” (Bala, 2013). Portanto, alguns pesquisadores consideram o quadro como uma emergência climática, ocasionada pela poluição atmosférica produzida. 


Poluição atmosférica é qualquer alteração nas propriedades químicas, físicas ou biológicas da atmosfera que tem impactos nocivos à saúde e aos ecossistemas, e são causadas por diversas atividades (Mano et  al.,  2005). Os principais poluentes considerados “gases do efeito estufa” são: material particulado, monóxido de carbono (CO), dióxido de sulfato (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx), ozônio (O3), metais pesados (chumbo, mercúrio) e compostos orgânicos voláteis (Santos et al., 2019).


A poluição atmosférica não é causada apenas por ações antropogênicas, uma vez que vulcões expelem grandes quantidades de CO, H2S e SO2, animais em decomposição emitem metano, incêndios liberam material particulado e tempestades de areia diminuem a qualidade do ar (Aguiar, 2009). Contudo, a poluição antropogênica tem alterado profundamente a composição química da atmosfera. Assim, podemos dizer que todo o progresso humano ocorreu às custas do empobrecimento do meio ambiente (Alves, 2022).


Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


A população em geral tem sido bastante afetada pela poluição atmosférica, sendo os idosos e crianças os mais atingidos (Santos et al., 2019). Além do mais, cerca de 7 milhões de pessoas por ano falecem, e 100 milhões ficam temporariamente incapacitadas, devido a doenças relacionadas à poluição atmosférica (OMS, 2015).

Outro ponto de extrema relevância é a velocidade da mudança na temperatura atual, que está entre 5 e 10 vezes maior do que nos últimos 65 milhões de anos. Se diminuirmos as emissões globais de gases de efeito estufa em 8% por ano, pelos próximos 30 anos, chegaremos em 2050 com um nível de emissões equivalente a 4,5 bilhões de toneladas de CO2 (Barreto, 2020).


A velocidade da alteração da temperatura e o aumento dos níveis de C02 estão intimamente interligados com eventos climáticos extremos, tornando-se mais comuns, como enchentes, estiagens, furacões e tornados, o que gera consequências em todos os organismos. Diante desse contexto, há necessidade de ações urgentes por parte dos órgãos governamentais e da sociedade civil (Moraes, 2007).


Dentro dessa perspectiva, o Brasil, sendo detentor de um rico território natural, entra como um ator central na mitigação da emergência climática. Isso devido ao país ser um dos mais importantes estoques de carbono florestal, possuir a maior biodiversidade planetária e ser o terceiro maior reservatório de água doce do mundo (Chefer & Soares, 2019).   


Contudo, o Brasil possui suas emissões de carbono e poluição principalmente vinculadas à mudança no uso do solo e queima de florestas, ou seja, especificamente o desmatamento é a causa mais relevante no país. Nesse sentido, o reflorestamento, que ainda é pouco desenvolvido no país, deveria ser mais intensificado, configurando uma importante peça do quebra-cabeça climático (Chefer & Soares, 2019; Calmon, 2021).


Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


As florestas são imprescindíveis no combate à ebulição global, uma vez que absorvem e configuram estoques de carbono em vida (Pinto et al., 2008). Os fluxos de carbono na atmosfera são principalmente controlados pelas plantas, por meio da fotossíntese (absorção) e da respiração (emissão) (Centro Clima, 2017). Florestas dispostas globalmente podem reservar 289 Gt de carbono em sua biomassa, diversificando essa capacidade de armazenamento conforme o bioma em que se encontra (Chefer & Soares, 2019).


Em especial as florestas tropicais, como a Mata Atlântica, presente no sudeste do país, possuem a maior capacidade de estocagem de carbono. Desse modo, a preservação das florestas e a restauração ecológica se fazem necessárias na mitigação de mudanças climáticas, e ainda protegem o solo, a qualidade da água e a biodiversidade, que proveem serviços ecossistêmicos (Chefer & Soares, 2019; Calmon, 2021). 


Dentro deste contexto, os serviços ecossistêmicos são fundamentais para a segurança hídrica e alimentar, e podem gerar retorno econômico, como é feito através de políticas públicas, como o programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Ainda, os serviços ecossistêmicos ajudam na manutenção das florestas, e consequentemente, nos processos naturais de captura e sequestro de carbono (Pinto et al., 2008;  Chefer & Soares, 2019). 


Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


O Instituto Suinã realiza projetos de restauração ecológica no Vale do Paraíba e na região em parceria com produtores rurais. Uma ação que impacta e influencia direta e positivamente nas emergências climáticas, especialmente se tratando do bioma Mata Atlântica.  


Um desses projetos é o diagnóstico socioambiental e restauração ecológica da sub-bacia do Quatro Ribeiras em Jacareí/SP, a fim de mobilizar e sensibilizar os proprietários de terras a conservarem os recursos hídricos por meio de melhorias ambientais em suas propriedades. 


O referido projeto possui o objetivo de reflorestar 33 hectares, com recurso advindo da instância econômico-financeira do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH), o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), regulamentado pelo Decreto Estadual nº 48.896/2004.


Referências

Aguiar, L. V. (2009). Neutralização compensatória de carbono: estudo de caso em uma indústria do setor metal-mecânico.


Alves, J. E. D. (2022). Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico. Liinc em Revista, 18(1), e5942-e5942.


Bala, G., (2013). Digesting 400 ppm for global mean CO2 concentration. Current Science, 104 (11). 1471-1472.


Barreto, E. S. (2020). Crise climática e o Green New Deal: uma primeira aproximação crítica. Revista Fim do Mundo, (02), 75-91.


Calmon, M. (2021). Restauração de florestas e paisagens em larga escala: o Brasil na liderança global. Ciência e Cultura, 73(1), 44-48.


Chefer, B. F., & Soares, I. M. D. M. (2019). Análise do potencial de absorção de CO2 pela restauração florestal no estado do Rio de Janeiro e sua importância frente às crise climáticas.


Gelain, A. J. L., Lorenzett, D. B., Neuhaus, M., & Rizzatti, C. B. (2012). Desmatamento no Brasil: um problema ambiental. Revista Capital Científico-Eletrônica (RCCҽ)-ISSN 2177-4153, 10(1).


Mano, E. B., Pacheco, É. B. A. V., & Bonelli, C. M. C. (2005). Meio ambiente, poluição e reciclagem. Edgard Blücher.


Mendonça, F., & Danni-Oliveira, I. M. (2017). Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. Oficina de textos.


Moraes, M. D. (2007). Estimativa do balanço hídrico na bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó–Município de São José de Ubá-RJ. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ.


OMS. (2015). Climate and Health Country Profile - 2015: Brazil. World Health Organization and United Nations Framework Convention on Climate Change. Geneva, p. 8.


PP Pinto, E. (2008). Perguntas e respostas sobre aquecimento global. IPAM.


Santos, H. L., Fialho, M. L., Reis, K. P., Franco, M. V., & Oliveira, R. B. D. (2019). Relação entre poluentes atmosféricos e suas consequências para a saúde. Revista Científica Intr@ ciência, 17, 01-24.


Autoras:

Alessandra Souza: Bióloga e apaixonada por todas as formas de vida. Aspirante a ornitóloga, atua em defesa da vida por meio de projetos socioambientais, envolvendo a conservação e manejo da biodiversidade.


Bruna Campos: Bióloga que luta por justiça socioambiental e educação libertadora e acessível. Amante de sapos e do funcionamento da vida. Atua em projetos socioambientais, como conservação e manejo da biodiversidade.

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Ao vivenciar a natureza, estimulamos a percepção das conexões naturais de cada indivíduo. Esse estímulo é transformador e é a base para a estruturação dos projetos de educação socioambiental conduzidos pelo Instituto Suinã. 


Os impactos da relação ser humano e ambiente natural formam o fio condutor para a proposta do Projeto Quatro Ribeiras, que tem como foco a restauração ecológica das áreas de preservação permanente

(APP´s) em propriedades localizadas na sub-bacia do córrego Quatro Ribeiras, buscando restabelecer as funções ecossistêmicas e realizar a manutenção do nosso bem natural mais precioso, a água.

Com isso acreditamos que para um bom projeto de restauração não basta apenas ter mudas de árvores nativas cercadas por um bom alambrado e fios de arame farpados, crescendo ao entorno de um corpo hídrico.



Para a efetividade desse importantíssimo processo, se faz necessária a transformação e mudança de atitude da comunidade local, onde a comunidade esteja integrada e sensibilizada sobre as questões ambientais, podendo culminar na mudança cultural por parte dos indivíduos (Vieira et al., 2022). 

Por este motivo, esse artigo destaca os resultados da etapa de educação ambiental do Projeto: Diagnóstico Socioambiental da Sub-Bacia do Córrego Quatro Ribeiras (SBCQR), realizado no município de Jacareí, SP. O córrego é afluente direto do rio Paraíba do Sul e contribui significativamente para o sistema de captação principal do município, responsável pelo abastecimento de cerca de 80% da população de Jacareí, SP, sendo esta uma sub-bacia prioritária para conservação no município.


As ações desta etapa foram realizadas em duas escolas municipais e em uma escola estadual localizadas na SBCQR. A estrutura pedagógica do projeto contemplou formações presenciais e vivências com as seguintes temáticas: restauração e serviços ecossistêmicos, bens hídricos, mobilização social e políticas públicas. Utilizou-se também como base as políticas internacionais alinhadas aos dilemas globais vividos no mundo, incluindo os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para as abordagens de contextualização da sub-bacia e sua importância para produção de água e segurança hídrica do município. 

Dentro desta perspectiva, o objetivo deste projeto foi  estabelecer um processo de aprendizagem que fosse participativo, gerador de autonomia e de grande potencial transformador, encurtando a distância entre o educador, estudante e a natureza.



Os encontros e vivências realizadas resultaram na formação e mobilização de 97 educadoras e educadores, estimulando a sensibilização ambiental para os seus mais de 2.400 estudantes. Adotar abordagens participativas incita as populações locais, especialmente as que habitam regiões próximas aos bens naturais a se envolverem com as questões ambientais, auxiliando no processo de conservação (Pádua et al., 2002; Benites & Mamede, 2008).


A Educação Ambiental é um processo permanente nos quais os envolvidos e a comunidade são sensibilizados e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam capacitados para a percepção e resolução de problemas ambientais de seu entorno. 


Os dados e relatos coletados durante as avaliações do projeto revelaram que, após a formação, 89% dos educadores passaram a reconhecer problemáticas ambientais que impactam a qualidade e produtividade dos bens hídricos nos arredores das escolas. E, após a realização de plantio de mudas nativas, foi constatado que 49% destes educadores não haviam plantado uma árvore anteriormente. 


Ainda, 100% dos educadores concordam que através dos processos de mobilização social, seria possível reverter cenários negativos perante as questões socioambientais, bem como 78% afirmaram que a formação auxiliou no desenvolvimento de atividades relacionadas às questões ambientais trabalhadas em sala de aula, evidenciando a importância da educação ambiental e do trabalho em conjunto na sensibilização e resolução de conflitos socioambientais.


Entendendo a necessidade de apropriação e sensibilização dos educadores diante dos temas centrais da restauração ecológica e a importância da adoção de novas posturas, hábitos e atitudes socioambientais, os participante exercem a sua cidadania, que fundamentalmente, depende de uma ética integral de respeito à vida, a todos os seres vivos e a natureza que somos.



A sensibilização da comunidade residente em um determinado território é fundamental, por possibilitar a aproximação das temáticas de impacto socioambiental e consequentemente a importância do local em que vivem. Uma vez que a comunidade escolar esteja engajada, ela pode dar continuidade e se manter com o olhar cuidadoso às necessidades no município e de seus munícipes, fomentando e intervindo, especificamente, em ações que contribuam para um desenvolvimento territorial sustentável e a conservação dos bens hídricos. 


Um dos afazeres mais significativos da prática educativo-crítica, segundo Freire (1997) , é propiciar as condições em que os educandos ensaiem a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como agente de transformação e incentivador de sonhos. Indicando a importância da observação e reflexão para que, através delas, possamos encontrar nossa ligação com o ambiente e, assim, ao nos enxergarmos nele, reavaliarmos nossas atitudes e porventura, transformá-las.


As experiências deste projeto, como as suas trocas, relatos das educadoras sobre as vivências e seus desdobramentos foram as melhores colheitas que nós, enquanto instituição, podemos ter, sendo um contexto de aprendizagem, para além do que se poderia definir apenas como instrumento metodológico. As práticas instigaram o poder do envolvimento das/os participantes em ações que favorecem o cumprimento de políticas públicas de proteção ambiental, tendo como pressuposto a ressignificação da importância de se permanecer comprometido consigo mesmo e com o meio em que estamos inseridos.



O Instituto Suinã, em todas suas ações, visa a contribuição para uma sociedade mais justa e sustentável. Com isso entendemos que a nossa conexão com o meio é uma das ferramentas mais importantes de sensibilização.


Referências: 

Benites M, Mamede S B (2008). Mamíferos e aves como instrumentos de educação e conservação ambiental em corredores de biodiversidade do Cerrado, Brasil. Mastozoología neotropical, v. 15, n. 2, p. 261-271.


Freire, P (1997) Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.


PADUA, Suzana Machado; SÁ, Lais Mourão. O papel da Educação Ambiental nas mudanças paradigmáticas da atualidade. Revista Paranaense de Desenvolvimento, n. 102, p. 71-83, 2002.


Vieira P S J et al (2022). Educação inclusiva e formação de professores: o caso de uma escola pública no estado de Goiás. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v. 5, n. 10, p. 77-90.


Autora: Lorrane Coelho é caiçara, bióloga e entusiasta pela educação na transformação da relação ser humano e natureza. Pós-graduanda em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Especialista Socioambiental do Instituto Suinã.


Co-autora: Alessandra Souza é bióloga e apaixonada por todas as formas vidas. Aspirante a ornitóloga, atua em defesa da vida por meio de projetos socioambientais, envolvendo a conservação e manejo da biodiversidade. Analista Socioambiental Pleno do Instituto Suinã.


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O Terceiro Setor é composto por diferentes tipos de organizações sem fins lucrativos que prestam serviços de interesse público e desenvolvimento socioambiental. De acordo com Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), esse segmento é composto em sua maioria por mulheres com 62% de presença, sendo que 51% em cargo de liderança.

 

Há dez anos, quando fundávamos o Instituto Suinã, não imaginávamos que faríamos parte dessa estatística. O Suinã idealizado e fundado por 5 biólogas, nascendo como uma representação da força atuante de mulheres em espaços ocupados majoritariamente por homens: meio acadêmico, científico, órgãos e colegiados, espaços onde há tomada de decisão.


Imagem: Suinã (Erythrina speciosa) | Fonte: Instituto Suinã


Todo o processo de estruturação da organização, elaboração do estatuto, definição de propósito foi materializado por meio de um grande esforço que, coincidência ou não, foi registrado em ata no dia 8 de março de 2014.

 

Refletir sobre essa trajetória e todos os obstáculos enfrentados ao longo desse tempo é um marco especialmente nesse ano em que temos essa dupla comemoração: Dia das Mulheres no ano em que completamos 10 anos!

 

Nessa busca para a transição para uma sociedade mais justa e sustentável, reconhecemos a espécie humana como semelhante a todas as outras formas de vida. Consideramos que a manutenção das riquezas naturais e dos processos ecológicos é o respiro que permite a existência das mais diversas formas de vida no nosso planeta. Nos nutrimos dos pequenos avanços e vitórias para seguirmos nos inspirando ao longo dos desafios em direção ao fortalecimento individual e coletivo para harmonização das relações para consigo, para com outros espaços e seres vivos e, consequentemente, com o planeta.

 

Acreditamos nos processos que considerem os diferentes saberes e olhares; as legítimas

reivindicações; nos diálogos onde haja respeito, escuta e contemplação das nossas diferenças e desta forma, na junção das diferenças, nos complementamos; lutamos e ansiamos pela justiça ambiental que promova a inclusão social e qualidade de vida aos diversos grupos sociais.

 

A busca de novos padrões de produção, consumo e transformações das estruturas no comportamento da sociedade é o caminho para seguirmos nos apoiando. E nesse processo, o que fazemos em nossos projetos reflete dentro da instituição e vice-versa. Ficamos orgulhosas em dizer que nossa equipe é composta por 79% de mulheres, 100% de nossa liderança é feminina, incentivamos o aperfeiçoamento profissional e acadêmico de nossa equipe e lutamos para que haja valorização do recurso humano no Terceiro Setor.

 

Que possamos continuar nesse caminho dando a mão a mais mulheres por onde andamos!


Vida longa ao Suinã!!

 

Referências citadas no texto:

Toro, J. B. & Werneck, N. M. D. F. Mobilização Social: um modo de construir a democracia e a participação, 1996.

 

 

Autora: Fernanda Scalambrino é mineira, silvicultora e bióloga. Especialista em Educação Ambiental e Transição para Sociedades Sustentáveis. MBA em ESG. desenvolve projetos de conservação da biodiversidade, educação ambiental e mobilização social. Cofundadora e Diretora Institucional do Instituto Suinã

 

Co-autora: Maria de Fátima de Oliveira é Bióloga, Mestre em Ciências Florestais, Especialista em Conservação e Manejo de Vida Silvestre, MBA em Restauração e Adequação Ambiental. É Cofundadora e Diretora Técnica do Instituto Suinã.

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