No dia 15 de abril, celebra-se o Dia Nacional da Conservação do Solo, uma data que ressalta a urgência de integrar o conhecimento científico às políticas públicas e práticas socioambientais voltadas à gestão sustentável dos recursos naturais. Entre todos os componentes ambientais, o solo permanece como um dos mais negligenciados — embora seja fundamental para a segurança alimentar, conservação da biodiversidade, regulação climática e manutenção dos ciclos hidrológicos.
O solo fornece suporte físico para vegetação e construções, atua como habitat para trilhões de organismos, regulador da qualidade da água por meio de processos de infiltração e filtragem de poluentes, e reservatório estratégico de carbono, sendo peça-chave nas estratégias de mitigação das mudanças climáticas (FAO, 2015).

Um alerta
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), cerca de 33% dos solos do mundo estão degradados — seja por erosão, salinização, compactação, acidificação ou contaminação. Isso significa menor fertilidade, mais enchentes, menos carbono sendo capturado da atmosfera, e impactos diretos na produção de alimentos e na biodiversidade (FAO, 2015).
No Brasil, os desafios se intensificam diante da expansão desordenada da agricultura convencional, da supressão de vegetação nativa e do uso indiscriminado de insumos sintéticos. Esses fatores, combinados aos efeitos das mudanças climáticas, têm acelerado o processo de degradação física, química e biológica dos solos (Embrapa, 2024).
Uma mulher, um solo vivo, uma revolução
Nesse contexto, é fundamental destacar a contribuição da pesquisadora Johanna Döbereiner, referência global na área da biologia do solo e microbiologia agrícola. Sua atuação foi decisiva na valorização da fixação biológica de nitrogênio (FBN) por bactérias diazotróficas em leguminosas, especialmente na cultura da soja.
Graças ao trabalho de Döbereiner, o Brasil se tornou líder na produção de soja com baixo uso de adubos sintéticos. E tudo isso com ciência nacional, feita por uma mulher que acreditava no potencial dos microrganismos e da natureza em equilíbrio.
A história de Johanna nos lembra da importância das mulheres na ciência dos solos, uma área onde, historicamente, elas enfrentaram (e ainda enfrentam) muitos desafios. Apoiar, reconhecer e valorizar a presença feminina na pesquisa é essencial para uma ciência mais justa, diversa e transformadora.

O que podemos fazer para conservar o solo?
A conservação dos solos exige a integração de políticas públicas, instrumentos legais, incentivos econômicos e práticas locais sustentáveis. Algumas estratégias eficazes incluem:
Reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, que promovem o aumento da cobertura vegetal, reduzem a erosão superficial e ampliam a infiltração de água no perfil do solo;
Implantação de sistemas agroflorestais e agricultura regenerativa, que restauram a funcionalidade ecológica do solo, aumentam a biodiversidade e promovem ciclagem eficiente de nutrientes;
Compostagem de resíduos orgânicos, que melhora a estrutura física do solo, aumenta a matéria orgânica e reduz a dependência de fertilizantes químicos;
Adoção de práticas agroecológicas, como plantio direto, rotação de culturas e cobertura morta, que favorecem a microbiota do solo e reduzem impactos antrópicos;
Educação ambiental e mobilização social, essenciais para fomentar a participação cidadã e o apoio a políticas públicas voltadas ao manejo sustentável do território.

Conservar o solo é conservar o futuro
O Dia Nacional da Conservação do Solo é um chamado à responsabilidade coletiva. É preciso reconhecer que o solo não é um recurso renovável em escala humana. É vivo, complexo e sua formação leva milhares de anos, enquanto sua degradação pode ocorrer em poucas décadas. Conservar o solo é, portanto, conservar o futuro da produção de alimentos, da água, do clima e da vida.
Que a ciência continue a nos guiar para soluções integradas, e que políticas públicas sejam construídas com base no conhecimento técnico e na valorização dos saberes locais e tradicionais.
O Instituto Suinã contribui para a conservação do solo por meio de suas diversas linhas de atuação, como a Educação Ambiental, a Conservação da Biodiversidade e os projetos de restauração ecológica.
Autora
Alessandra Souza, Bióloga, mestranda e apaixonada por todas as formas de vida. Atua em defesa da vida por meio de projetos socioambientais, envolvendo Educação Ambiental e a Conservação da biodiversidade.
Referências
FAO. (2015). Status of the World’s Soil Resources: Main Report. Food and Agriculture Organization of the United Nations. https://www.fao.org/documents/card/en/c/c6814873-efc3-41db-8c6a-5d3c5c6ff5eb/
Embrapa Solos. (2024). Relatório de conservação e uso sustentável dos solos no Brasil. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Hungria, M., Campo, R. J., Mendes, I. C., & Graham, P. H. (2010). Contribution of biological nitrogen fixation to the N nutrition of grain crops in the tropics: The success of soybean (Glycine max L. Merr.) in South America. In Nitrogen fixation in crop production (pp. 43–93). ASA, CSSA, and SSSA.