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Vivemos em um sistema dinâmico, em constante troca de energias e interações, onde todos os seres vivos, desde micro-organismos até a fauna e flora silvestres, incluindo a espécie humana, estão interligados. Esse conjunto de relações e trocas caracteriza o que chamamos de ecossistema. Segundo Alho  (2012), a biodiversidade é um componente essencial desse sistema, representando a variedade e variabilidade dos seres vivos e suas interações com o meio ambiente. 


Cada organismo desempenha um papel específico, contribuindo para o equilíbrio e funcionamento do ecossistema como um todo. Essa perspectiva nos lembra da importância de preservar e compreender as interações ecológicas, pois o bem-estar de um componente afeta diretamente todos os outros. A manutenção da biodiversidade não só assegura a resiliência dos ecossistemas, mas também a qualidade de vida humana, uma vez que dependemos desses sistemas para recursos essenciais como água, alimento e ar puro.


O ser humano está em constante evolução, trazendo inúmeros benefícios e inovações. No entanto, ao longo dos anos, esquecemos nossa conexão essencial com o meio ambiente e nossa dependência dele. Assim como todos outros seres vivos, necessitamos de ar puro para respirar, água potável para beber e um clima estável para viver (ALHO, 2012).


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Imagem 1: Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello - Mogi das Cruzes / SP

Registro: Instituto Suinã


Apesar de sua expressiva influência em nossas vidas, a biodiversidade está sendo gravemente ameaçada por fatores como a ocupação e o uso inadequado do solo, mudanças climáticas, poluição, exploração direta e a presença de espécies exóticas invasoras (Jornal USP por Gonçalves, 2023). Portanto, é urgente implementar estratégias eficazes para conter a perda de ecossistemas, que avança a cada dia.


As áreas protegidas são territórios especialmente designados e geridos para proteger a fauna, a flora e os bens naturais. Além de fornecerem refúgio seguro para inúmeras espécies, essas áreas desempenham um papel essencial na preservação dos ecossistemas, na manutenção da biodiversidade e no estímulo a pesquisas científicas. Também são fundamentais para a realização de atividades de educação ambiental, contribuindo para a sensibilização e o engajamento da sociedade na proteção do meio ambiente.


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Imagem 2: Refúgio de Vida Silvestre do Bicudinho - Guararema / SP. 

Registro: Gustavo Gasparini (Kanindé Audiovisual


As Unidades de Conservação (UCs) têm como objetivo proteger a biodiversidade, assegurar a sustentabilidade dos bens naturais e promover a educação ambiental e a pesquisa científica. Estão divididas em duas categorias:


1. Unidades de Conservação de Proteção Integral

Objetivo: Preservar a natureza, restringindo ao máximo a interferência humana direta e garantindo a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade. Existem diferentes categorias de áreas destinadas a esse objetivo, incluindo Estação Ecológica (ESEC), Reserva Biológica (REBIO), Parque Nacional (PARNA), Monumento Natural (MONA) e Refúgio de Vida Silvestre (RVS). Cada uma dessas áreas tem como finalidade a proteção integral de ecossistemas, espécies e elementos naturais, muitas vezes permitindo a realização de pesquisas científicas e, em alguns casos, possibilitando a visitação pública controlada (Imagens 1, 2 e 3). 


Um exemplo dessa categoria é o Refúgio de Vida Silvestre do Bicudinho, localizado em Guararema, uma UC municipal criada para proteger o bicudinho-do-brejo-paulista e que o Instituto Suinã auxiliou na criação e atualmente é responsável pela elaboração do Plano de Manejo da UC, em parceria com a Instituição SAVE Brasil.


2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável

Objetivo: Permitir o uso sustentável dos bens naturais, conciliando a conservação ambiental com o desenvolvimento econômico e social das comunidades locais. Existem diferentes categorias de áreas destinadas a esse objetivo, incluindo Reserva Extrativista (RESEX), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), Área de Proteção Ambiental (APA), Floresta Nacional (FLONA,  Reserva de Fauna (REFAU) e Reserva de Caça (RECA). Além disso, existem áreas verdes sem uma classificação específica, mas que são essenciais para a manutenção da fauna e da flora nos centros urbanos. Cada uma dessas áreas é destinada à proteção dos bens  naturais e à promoção de práticas sustentáveis, adaptando-se às necessidades específicas das populações e ecossistemas locais.


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Imagem 3: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Santa Virgínia. São Luís do Paraitinga/ SP. 

Registro: Gustavo Gasparini (Kanindé Audiovisual)


Além disso, as Unidades de Conservação (UCs) estão diretamente ligadas ao conceito de ambientes restauradores (ULRICH, 1983; da Silva-Melo et al., 2020). Elas proporcionam uma interação positiva com ambientes naturais, promovendo o bem-estar humano ao reduzir o estresse e aliviar o desgaste do cotidiano. Esses espaços oferecem benefícios significativos para a saúde mental e física, ao mesmo tempo em que desempenham papéis cruciais na regulação da qualidade da água, na fertilidade dos solos, no equilíbrio climático, e na manutenção da qualidade do ar. Aumentam o conforto ambiental, a valorização de áreas de convivência social, a valorização econômica das propriedades e a formação de um patrimônio cultural e de memória coletiva. Adicionalmente, servem como base para a produção de medicamentos e oferecem áreas verdes para lazer, educação, cultura, ecoturismo e reflexão espiritual (Lanzas, 2019).


Para além das Unidades de Conservação, existem espaços urbanos que se destacam como áreas verdes e heterogêneas, funcionando como “refúgios” de biodiversidade ao abrigar diversas espécies. Esses parques urbanos são essenciais para a população, pois oferecem múltiplos serviços ecossistêmicos. Estudos sobre biodiversidade em áreas urbanas são, portanto, fundamentais para a conservação desses recursos (Threlfall et al., 2016).


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Imagem 4: Viveiro Municipal  - Jacareí / SP 

Registro: Gustavo Gasparini (Kanindé Audiovisual)


O viveiro municipal Seo Moura, uma ilha verde localizada na cidade de Jacareí, onde o Instituto Suinã faz a gestão do uso público aos domingos por meio do Projeto Viver o Viveiro, é um exemplo de área verde dedicada à conservação e manutenção dos ecossistemas, podendo ser considerado um refúgio para a fauna da cidade. Proporciona um habitat seguro para diversas espécies e contribui significativamente para a conservação da biodiversidade local (Imagem 4).


O Instituto Suinã, em colaboração com a Prefeitura Municipal de Jacareí e o Núcleo de Educação Ambiental (NEA) do município, desenvolve atividades de plantio, conservação e sensibilização ambiental, promovendo a conscientização sobre a importância da preservação da natureza. Essas ações são essenciais para integrar a população urbana à dinâmica ambiental, fortalecendo a conexão entre a comunidade e o meio ambiente e garantindo a proteção e valorização dos bens naturais nas regiões urbanas.


A conservação da biodiversidade e a gestão sustentável dos ecossistemas são fundamentais para a vida no planeta. Unidades de Conservação e áreas verdes urbanas são essenciais para integrar a biodiversidade nas cidades, promovendo a sustentabilidade e o bem-estar da comunidade.


Parcerias e ações comunitárias são vitais para fortalecer a conexão entre os seres humanos e a natureza. Manter essas áreas bem conservadas é crucial para garantir que continuem beneficiando a qualidade de vida e a sustentabilidade das comunidades urbanas. Assim, a conservação dessas áreas verdes se torna uma responsabilidade compartilhada, assegurando que as gerações futuras também possam desfrutar dos seus inúmeros benefícios.


Autora:

Bruna Oliveira, residente no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, é uma entusiasta pela biodiversidade e pelo estudo dos fungos. Estudante de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, nutre uma profunda paixão pela natureza e suas maravilhas.

Co-autoras: 

Laura Oliveira, Bióloga e adentrando nesse novo mundo do terceiro setor, atuante em projetos de Educação ambiental e Educomunicação.


Alessandra Souza, bióloga e apaixonada por todas as formas de vida. Aspirante a ecóloga e sua interface com as comunidades humanas, atua em defesa da vida por meio de projetos socioambientais, envolvendo a conservação e manejo da biodiversidade.


Referências

ALHO, Cleber JR. Importância da biodiversidade para a saúde humana: uma perspectiva ecológica. Estudos avançados, v. 26, p. 151-166, 2012. 


ANDREOLI, Cleverson V.; ANDREOLI, Fabiana de Nadai; PICCININI, Cristiane; SANCHES, Andréa da Luz. Biodiversidade: a importância da preservação ambiental para manutenção da riqueza e equilíbrio dos ecossistemas.


AUTORIASCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS. Metrópoles, cobertura vegetal, áreas verdes e saúde. Estudos Avançados, São Paulo, v. 34, n. 99, p. 237-254, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/79qP5WjNmMPYKCCQK3G78LD/?lang=pt. Acesso em: 31 jul. 2024.


BARROS, Ligia Paes de. Conservação da biodiversidade e áreas protegidas: mundo avança, mas não alcança metas. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/79qP5WjNmMPYKCCQK3G78LD/?lang=pt. Acesso em: 29 julho 2024.


BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 31 jul. 2024.


DA SILVA-MELO, Marta Regina; DE MELO, Gleidson André Pereira; GUEDES, Neiva Maria Robaldo. Unidades de Conservação: uma reconexão com a natureza, pós COVID-19. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 15, n. 4, p. 347-360, 2020.


LANZAS, Mónica et al. Designing a network of green infrastructure to enhance the conservation value of protected areas and maintain ecosystem services. Science of the Total Environment, v. 651, p. 541-550, 2019.


Potencialidades e desafios das áreas protegidas no Brasil, disponível em: Jornal USP https://jornal.usp.br/?p=649128  


SEMIL - Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Paulo. A importância das unidades de conservação para a qualidade de vida da população. Disponível em: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/2019/05/a-importancia-das-unidades-de-conservacao-para-a-qualidade-de-vida-da-populacao/. Acesso em: 30 jul. 2024.


THRELFALL, Caragh G. et al. Approaches to urban vegetation management and the impacts on urban bird and bat assemblages. Landscape and Urban Planning, v. 153, p. 28-39, 2016.




 
 
 

Atualizado: 11 de ago.

Ao respirar o ar profundamente ou ao apenas observar o ambiente natural ao nosso redor, somos capazes de construir uma sensação de pertencimento e esse sentimento é capaz de trazer paz e calma. Esquecemos de problemas que nos envolvem no dia a dia e conseguimos nos sentir tranquilos, vivendo apenas aquele momento.


Essa sensação de conexão tem um nome: Biofilia.  O conceito de Biofilia, criado por Wilson (1984), ressalta que o ser humano tem necessidades profundas de contato com a natureza, isso de forma biológica, devido a nossa formação em ambientes naturais e não artificiais. Mas de toda forma, estudos apontam que o laço genético não é o suficiente e que requer um aprendizado cultural com vivências na natureza para estimular a tendência de biofilia (KELLERT, 2012).


De acordo com Louv (2016) “O contato com ambientes naturais é um remédio sem contra indicação, e a “Vitamina N” (de natureza) é uma receita completa para se conectar com o poder e a alegria do mundo natural”. Essa busca por reconexão com a natureza teve um aumento significativo após a pandemia do COVID-19, em que as pessoas saíam de ambientes fechados, suscetíveis a doenças psicológicas em busca de espaços capazes de proporcionar sensação de bem estar físico e emocional (SILVA-MELO 2020).


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Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


A partir desse vínculo, a Educação Ambiental (EA) vem como um ponto essencial no uso de metodologias, com o poder de ser uma ponte para a compreensão e respeito do meio ambiente, englobando uma rede de relações, não apenas naturais, mas também sociais e culturais (CARVALHO, 2018). Podemos também traduzir a EA como a busca da  construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do meio ambiente natural e construído. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 3º).


Umas das ramificações da EA que vem ganhando força é a observação de aves, que traz para a prática o conteúdo de inúmeros documentários, filmes, livros e artigos. Por meio dessa prática é possível realizar uma imersão na natureza, trazendo percepções críticas referente ao meio em que estamos inseridos (SILVA, 2015). Além de ser uma atividade ecoturística que envolve participantes de todas as idades, auxiliando em diversas questões de sustentabilidade (ALVES, 2020). O diretor  e biólogo do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), José Fernando Pacheco, ressalta que “a observação cria uma relação de respeito e harmonia com a natureza". Há um despertar dos sentidos, não apenas para as aves, mas para o hábitat em que elas vivem”. 


A observação de aves vem como um diferencial pedagógico que possibilita várias abordagens de forma multidisciplinar. A escolha das aves para a prática de observação vem devido sua diversa expansão territorial e variedade de espécies. Elas ocorrem em qualquer ambiente e em todas as estações do ano, além de serem um elemento relevante em diversos ecossistemas servindo também de bioindicadores (COSTA,2007).


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Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


Levando esses dados em consideração, o Instituto Suinã estabeleceu parceria com a SAVE Brasil e muitas outras instituições, para o planejamento do evento Avistando e, desde 2022, os encontros vêm ganhando cada vez mais força na região do Vale do Paraíba, Alto Tietê e Litoral Norte.


Em 2023 contamos com a participação de 9 prefeituras municipais, sendo elas: Salesópolis, Caraguatatuba, Jacareí, Mogi das Cruzes, Santa Branca, Guararema, São José dos Campos e os distritos de São Francisco Xavier e Lagoinha. Contamos também com o envolvimento de 14 instituições além do Instituto Suinã, são elas: SAVE Brasil, Associação Colibri, companhia Suzano, SESC Mogi, Assentamento Egídio Brunetto I, Parques Estaduais da Serra do Mar - Núcleo Padre Dória e Caraguatatuba, os parques urbanos Viveiro Municipal Seo Moura, Parque Vicentina Aranha, NEA Ilha Grande,  Museu da Energia de Salesópolis, Parque dos Pássaros,  Sítio Corujinha e Sítio Macuquinho.


Durante os encontros foram realizadas palestras e oficinas e as trilhas sempre contaram com a orientação de especialistas na área. Esse acompanhamento foi essencial, pois forneceu informações adicionais aos participantes e facilitou uma troca mais rica de experiências e conhecimentos. O processo de identificação das espécies avistadas foi de maneira coletiva e registrado em listas no aplicativo eBird, que colabora na construção da ciência cidadã, sendo uma estratégia e oportunidade para promoção de vínculo com a natureza e seus elementos, comprometimento com sua proteção, aprimoramento e democratização do conhecimento (MAMEDE, BENITES & ALHO,2017).


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Registro: Paolo Oliveira

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


Ao longo de nossas atividades, realizamos um total de 13 encontros em áreas verdes, parques urbanos e unidades de conservação nos 9 municípios e distritos participantes. Esses eventos contaram com a participação de 279 observadoras e observadores de aves, resultando no avistamento de 661 indivíduos de 200 espécies diferentes.


Estamos imensamente gratificadas pelos resultados alcançados nesta edição, que contou com o ampliação de encontros em 116% e um notável aumento na participação, com um impressionante crescimento de 187%. Este acréscimo de encontros e presença dos participantes teve um impacto direto na diversidade avistada, com um aumento de 125% na quantidade de espécies registradas.


O Avistando tem como objetivo sensibilizar a população envolvida, incentivando um olhar mais amplo para o meio em que vivem e uma maior proximidade com nossa biodiversidade. Ao promover um olhar mais crítico e sensível, buscamos estimular a busca por alternativas que estabeleçam o equilíbrio em ambientes impactados pela ação antrópica, abordando questões nos âmbitos socioambiental, político e econômico.


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Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Viveiro, Jacareí / SP


Autora: 

Laura Oliveira, graduanda em Biologia, adentrando nesse novo mundo do terceiro setor, atuante em projetos de Educação ambiental e Educomunicação.


Co-autora:

Lorrane Coelho é caiçara, bióloga e entusiasta pela educação na transformação da relação entre ser humano e natureza. Pós-graduanda em Educação Ambiental e Sustentabilidade.


Referências

ALVES, Kaylla Lemes; FONSECA FILHO, Ricardo Eustáquio. Observação de aves e educação ambiental: percepções de alunos de escola pública, Uberlândia/MG. TURYDES: Revista sobre Turismo y Desarrollo local sostenible, v. 13, n. 28, p. 349-361, 2020.


CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2018.


DA SILVA-MELO, Marta Regina; DE MELO, Gleidson André Pereira; GUEDES, Neiva Maria Robaldo. Unidades de Conservação: uma reconexão com a natureza, pós COVID-19. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 15, n. 4, p. 347-360, 2020.


DE ANDRADE COSTA, Ronaldo Gonçalves. Observação de aves como ferramenta didática para educação ambiental. Revista Didática Sistêmica, v. 6, p. 33-44, 2007.


LOUV, R. A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do deficit de natureza. São Paulo: Aquariana; 2016.


MAMEDE, Simone; BENITES, Maristela; ALHO, Cleber José Rodrigues. Ciência cidadã e sua contribuição na proteção e conservação da biodiversidade na reserva da biosfera do Pantanal. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 12, n. 4, p. 153-164, 2017.


VIEIRA-DA-ROCHA, M.C.; MOLIN, T. A aceitação da observação de aves como ferramenta didática no ensino formal. Atualidades Ornitológicas On-line, n. 146, p. 33-37, 2008.


KELLERT, S. Birthright: People and Nature in the Modern World. Yale University Press, 2012.


WILSON, E. O. Biophilia. Boston: Harvard University Press, 1984. 157p.

 
 
 

Atualmente, as mudanças climáticas configuram o maior desafio em escala global. As flutuações nas condições atmosféricas são naturais, contudo, as temperaturas têm aumentado drasticamente nos últimos 150 anos, o que representa uma “anomalia climática” (Bala, 2013). Portanto, alguns pesquisadores consideram o quadro como uma emergência climática, ocasionada pela poluição atmosférica produzida. 


Poluição atmosférica é qualquer alteração nas propriedades químicas, físicas ou biológicas da atmosfera que tem impactos nocivos à saúde e aos ecossistemas, e são causadas por diversas atividades (Mano et  al.,  2005). Os principais poluentes considerados “gases do efeito estufa” são: material particulado, monóxido de carbono (CO), dióxido de sulfato (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx), ozônio (O3), metais pesados (chumbo, mercúrio) e compostos orgânicos voláteis (Santos et al., 2019).


A poluição atmosférica não é causada apenas por ações antropogênicas, uma vez que vulcões expelem grandes quantidades de CO, H2S e SO2, animais em decomposição emitem metano, incêndios liberam material particulado e tempestades de areia diminuem a qualidade do ar (Aguiar, 2009). Contudo, a poluição antropogênica tem alterado profundamente a composição química da atmosfera. Assim, podemos dizer que todo o progresso humano ocorreu às custas do empobrecimento do meio ambiente (Alves, 2022).


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Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


A população em geral tem sido bastante afetada pela poluição atmosférica, sendo os idosos e crianças os mais atingidos (Santos et al., 2019). Além do mais, cerca de 7 milhões de pessoas por ano falecem, e 100 milhões ficam temporariamente incapacitadas, devido a doenças relacionadas à poluição atmosférica (OMS, 2015).

Outro ponto de extrema relevância é a velocidade da mudança na temperatura atual, que está entre 5 e 10 vezes maior do que nos últimos 65 milhões de anos. Se diminuirmos as emissões globais de gases de efeito estufa em 8% por ano, pelos próximos 30 anos, chegaremos em 2050 com um nível de emissões equivalente a 4,5 bilhões de toneladas de CO2 (Barreto, 2020).


A velocidade da alteração da temperatura e o aumento dos níveis de C02 estão intimamente interligados com eventos climáticos extremos, tornando-se mais comuns, como enchentes, estiagens, furacões e tornados, o que gera consequências em todos os organismos. Diante desse contexto, há necessidade de ações urgentes por parte dos órgãos governamentais e da sociedade civil (Moraes, 2007).


Dentro dessa perspectiva, o Brasil, sendo detentor de um rico território natural, entra como um ator central na mitigação da emergência climática. Isso devido ao país ser um dos mais importantes estoques de carbono florestal, possuir a maior biodiversidade planetária e ser o terceiro maior reservatório de água doce do mundo (Chefer & Soares, 2019).   


Contudo, o Brasil possui suas emissões de carbono e poluição principalmente vinculadas à mudança no uso do solo e queima de florestas, ou seja, especificamente o desmatamento é a causa mais relevante no país. Nesse sentido, o reflorestamento, que ainda é pouco desenvolvido no país, deveria ser mais intensificado, configurando uma importante peça do quebra-cabeça climático (Chefer & Soares, 2019; Calmon, 2021).


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Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


As florestas são imprescindíveis no combate à ebulição global, uma vez que absorvem e configuram estoques de carbono em vida (Pinto et al., 2008). Os fluxos de carbono na atmosfera são principalmente controlados pelas plantas, por meio da fotossíntese (absorção) e da respiração (emissão) (Centro Clima, 2017). Florestas dispostas globalmente podem reservar 289 Gt de carbono em sua biomassa, diversificando essa capacidade de armazenamento conforme o bioma em que se encontra (Chefer & Soares, 2019).


Em especial as florestas tropicais, como a Mata Atlântica, presente no sudeste do país, possuem a maior capacidade de estocagem de carbono. Desse modo, a preservação das florestas e a restauração ecológica se fazem necessárias na mitigação de mudanças climáticas, e ainda protegem o solo, a qualidade da água e a biodiversidade, que proveem serviços ecossistêmicos (Chefer & Soares, 2019; Calmon, 2021). 


Dentro deste contexto, os serviços ecossistêmicos são fundamentais para a segurança hídrica e alimentar, e podem gerar retorno econômico, como é feito através de políticas públicas, como o programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Ainda, os serviços ecossistêmicos ajudam na manutenção das florestas, e consequentemente, nos processos naturais de captura e sequestro de carbono (Pinto et al., 2008;  Chefer & Soares, 2019). 


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Imagem: Parque das Neblinas, Bertioga/SP


O Instituto Suinã realiza projetos de restauração ecológica no Vale do Paraíba e na região em parceria com produtores rurais. Uma ação que impacta e influencia direta e positivamente nas emergências climáticas, especialmente se tratando do bioma Mata Atlântica.  


Um desses projetos é o diagnóstico socioambiental e restauração ecológica da sub-bacia do Quatro Ribeiras em Jacareí/SP, a fim de mobilizar e sensibilizar os proprietários de terras a conservarem os recursos hídricos por meio de melhorias ambientais em suas propriedades. 


O referido projeto possui o objetivo de reflorestar 33 hectares, com recurso advindo da instância econômico-financeira do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH), o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), regulamentado pelo Decreto Estadual nº 48.896/2004.


Referências

Aguiar, L. V. (2009). Neutralização compensatória de carbono: estudo de caso em uma indústria do setor metal-mecânico.


Alves, J. E. D. (2022). Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico. Liinc em Revista, 18(1), e5942-e5942.


Bala, G., (2013). Digesting 400 ppm for global mean CO2 concentration. Current Science, 104 (11). 1471-1472.


Barreto, E. S. (2020). Crise climática e o Green New Deal: uma primeira aproximação crítica. Revista Fim do Mundo, (02), 75-91.


Calmon, M. (2021). Restauração de florestas e paisagens em larga escala: o Brasil na liderança global. Ciência e Cultura, 73(1), 44-48.


Chefer, B. F., & Soares, I. M. D. M. (2019). Análise do potencial de absorção de CO2 pela restauração florestal no estado do Rio de Janeiro e sua importância frente às crise climáticas.


Gelain, A. J. L., Lorenzett, D. B., Neuhaus, M., & Rizzatti, C. B. (2012). Desmatamento no Brasil: um problema ambiental. Revista Capital Científico-Eletrônica (RCCҽ)-ISSN 2177-4153, 10(1).


Mano, E. B., Pacheco, É. B. A. V., & Bonelli, C. M. C. (2005). Meio ambiente, poluição e reciclagem. Edgard Blücher.


Mendonça, F., & Danni-Oliveira, I. M. (2017). Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. Oficina de textos.


Moraes, M. D. (2007). Estimativa do balanço hídrico na bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó–Município de São José de Ubá-RJ. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ.


OMS. (2015). Climate and Health Country Profile - 2015: Brazil. World Health Organization and United Nations Framework Convention on Climate Change. Geneva, p. 8.


PP Pinto, E. (2008). Perguntas e respostas sobre aquecimento global. IPAM.


Santos, H. L., Fialho, M. L., Reis, K. P., Franco, M. V., & Oliveira, R. B. D. (2019). Relação entre poluentes atmosféricos e suas consequências para a saúde. Revista Científica Intr@ ciência, 17, 01-24.


Autoras:

Alessandra Souza: Bióloga e apaixonada por todas as formas de vida. Aspirante a ornitóloga, atua em defesa da vida por meio de projetos socioambientais, envolvendo a conservação e manejo da biodiversidade.


Bruna Campos: Bióloga que luta por justiça socioambiental e educação libertadora e acessível. Amante de sapos e do funcionamento da vida. Atua em projetos socioambientais, como conservação e manejo da biodiversidade.

 
 
 

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