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Inventário de Fauna: Uma prosa rápida

Uma das áreas que está dentro do grande guarda-chuva que é a conservação e manejo de biodiversidade, e atrai muito a atenção do público é o que se relaciona à fauna. O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta, com mais de 116 mil espécies de animais (MMA, 2022). O território Brasileiro é gigante e as variações de ambientes, no decorrer de milhares de anos, favoreceram pressões evolutivas ou seletivas, que fizeram com que o processo de especiação (“surgimento” de novas espécies) ocorresse de forma intensa, resultando nessa imensa diversidade.


Inventários de fauna podem ser empregados com diversos objetivos, mas a priori tem como propósito o registro da ocorrência de espécies em determinada área (SILVEIRA et al, 2010;). Para tal, há uma ampla gama de metodologias para os diferentes grupos de animais, e qual delas utilizar dependerá novamente do objetivo do estudo. Voltando a condição primeira, que seria o registro da ocorrência desses animais em determinada área em um recorte de tempo, vou elencar resumidamente as correntemente usadas nos principais grupos zoológicos:


Procura ativa/Observação direta: Como o próprio nome já diz esse método consiste em observar e/ou ouvir o animal em seu hábitat. É aplicável a todos os grupos zoológicos, e pode ser empregado de diferentes maneiras, sendo um método generalista.


Imagem 1: Procura ativa de anuros noturnos

Fonte: Acervo (Instituto Suinã)


Amostragem passiva/Armadilhas: Existem vários tipos de armadilhas para as diferentes espécies, e sua utilização vai depender mais uma vez da finalidade do trabalho. Para Herpetofauna (grupo que une anfíbios e répteis) as armadilhas de interceptação e queda são as mais utilizadas (modelo Pitfall), vale ressaltar que mamíferos de pequeno porte também são comumente encontrados nesse tipo de armadilha. Para mamíferos de pequeno e médio porte pode-se utilizar armadilhas do tipo gaiola, feitas de arame, sendo a Tomahawk e Sherman os modelos mais utilizados. Ambas possibilitam o manuseio do animal para análise mais detalhada, ou até mesmo para a coleta de material biológico. Para as aves pode-se utilizar as denominadas “redes neblina”, que além de aves também são empregadas na captura de morcegos (mamíferos voadores).


Há ainda outras armadilhas, menos invasivas, neste seguimento as câmeras “traps” são amplamente utilizadas, pois tem o potencial de registrar uma grande diversidade de animais, inclusive os mais arredios, como os mamíferos de grande porte, tal como felinos, canídeos entre outros. As armadilhas de pegadas também têm bons resultados, consistindo na instalação de “plots” de substratos, geralmente arenosos ou argilosos, que marca a pegada do animal que pisa na armadilha, podendo fazer a identificação desse vestígio, registrando a ocorrência do animal.


Lembrando que essas metodologias podem ser empregadas individualmente ou complementando uma à outra.


Imagem 2: Instalação de parcela de areia

Fonte: Acervo (Instituto Suinã)



Vídeo 1: Captura de imagem da espécie Cuniculus paca.

Fonte: Acervo (Instituto Suinã).


Os resultados desses levantamentos podem indicar uma série de dinâmicas florestais, possibilitando enxergar através de dados e da presença ou ausência de indivíduos ou populações de determinadas espécies, o grau de perturbação das áreas e adjacências. Podendo inferir em futuras áreas de preservação e corredores ecológicos, contribuindo para a prosperidade um ambiente minimamente saudável para nossa exuberante fauna, e também para a manutenção dos serviços ecossistêmicos que tanto nos beneficia.


Recentemente a equipe do Instituto Suinã conduziu um levantamento prévio da fauna silvestre da unidade de conservação “Refúgio de Vida Silvestre do Bicudinho'', no município de Guararema-SP. O objetivo foi registrar e fazer uma lista prévia dos animais nos grupos zoológicos: aves, anuros e mamíferos terrestres. Utilizamos 3 metodologias que se complementam, as câmeras “trap”, parcelas ou “plots” de areia e procura ativa, dessa forma foram inventariadas 40 espécies de aves, 14 de mamíferos e 6 de anuros(sapos, pererecas e rãs).


De acordo com Fátima de Oliveira, bióloga e diretora técnica do Instituto Suinã, “O inventário de fauna é fundamental, não só para se conhecer as espécies que habitam determinada área mas também para se avaliar como está a saúde do fragmento ou remanescente nativo, pois a composição da comunidade faunística é um importante indicador do status de conservação da área estudada". Esse estudo é apenas o início de uma série de levantamentos a serem realizados nesse local e região.


Para acessar o levantamento completo acesse o link:


Autor: Lucas Alonso é Salesopolense, biólogo e técnico socioambiental no Instituto Suinã, onde desenvolve projetos de conservação e manejo de biodiversidade, mobilização social e educação ambiental. Atua na região do Vale do Paraíba e Alto Tietê, em áreas de Mata Atlântica e encraves de Cerrado.


Co-autora: Maria de Fátima de Oliveira é Bióloga, Mestre em Ciências Florestais, Especialista em Conservação e Manejo de Vida Silvestre, MBA em Restauração e Adequação Ambiental (em curso). Tem passagem pelo setor florestal na área ambiental e social, no setor público atuando na gestão ambiental e gestão de unidades de conservação, experiência com educação formal no ensino fundamental, médio e superior. É co-fundadora e Diretora Técnica do Instituto Suinã.


Co-autora: Fernanda Scalambrino é mineira, silvicultora e bióloga. Especialista em Educação Ambiental e Transição para Sociedades Sustentáveis. Sócia-fundadora e Diretora Institucional do Instituto Suinã onde desenvolve projetos de conservação da biodiversidade, educação ambiental e mobilização social. Atualmente mora em São José dos Campos - SP.


Referências:


Fauna e flora. Governo federal; Ministério do meio ambiente, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-e-flora


FERREIRA, D. Inventário da Avifauna do Parque Natural Municipal Corredores de biodiversidade, Sorocaba-SP, Brasil. Sorocaba, 2014.


OLIVEIRA, F. M; Uso de ambientes por mamíferos em área de floresta atlântica com plantios de eucaliptos no Vale do Paraíba-SP. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, p. 65, 2002


SILVEIRA,F. L; BEISIEGEL,M.B; CURCIO,F.F; VALDUJO, H. P; DIXO,M; VERDADE, K. V; MATTOX,T.M.G; CUNNINGHAM,M.T.P. Pra que serve um inventário de fauna? Estudos avançados 24 (68), 2010.


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